NAS ESTRELAS DAS ESPORAS

Autor: Colmar Pereira Duarte
Intérprete: Romeu Weber
Amadrinhador: Geraldo Trindade

Esse baio era maleva!
E o Quirino bem sabia.

Bulido,
Sem ser domado,
Fora ficando aporreado,
Passando de mão em mão.

O bicho que não se doma
Descobre a força que tem.
Nenhum – por mais caborteiro!–
Nasce com balda ou com manha.
O bagual que não apanha
Não teme nem desconfia;
Com manuscio e carinho
Se amansa mais facilmente
Que com golpe e judiaria.

Procure o jeito, parceiro
- “quando se ganha o tirão,
não há bagual pescoceiro!”

O segredo é ter paciência,
Pois, muito mais que o rigor,
É uma arma de valor
Pra vencer a resistência.

A vida ensina a razão,
Embora seja do agrado,
Ser bom não é obrigação;
Obrigação, é ser justo!
Toda injustiça revolta,
E a revolta tem um custo.

Quem tem as rédeas governa,
Mas é bom sempre lembrar
Que o bicho é mesmo que gente.
E até se comporta igual,
E toda força que tem,
E que pode usar pra o bem
Às vezes usa pra o mal.

Talvez por isso, esse baio
Aprendera a velhaquear,
E agora estava afamado
Por caborteiro e mesquinho.
Em seu lombo, sem basteira,
Não senta nem passarinho.

Quirino herdara, ao nascer,
Seu destino de ginete;
Porque ginete se nasce,
O mais, se pode aprender,
Entropilhava diplomas
Das “Criollas” que ganhara;
Bagé e Jesus Maria.
Osório e Montevidéu,
E aquele baita troféu
De ‘Campeão de Vacaria”.





Por certo já estava escrito
Nas estrelas das esporas
Que esse dia ia chegar.

E foi assim - campo a fora –
Que a vida juntou os dois.
Um por maula,
Outro por bueno;
Um - remédio,
Outro - veneno.
Numa porfia”garruda”,
Na qual não se tem ajuda,
Quem pode mais chora menos.

Dois corvos que voavam baixo
Se alçaram buscando altura,
E a calma dessa planura,
Na manhã ensolarada,
Foi bruscamente cortada
Pela silueta andulante
Do cavalo e do ginete,
Era a força da tormenta
Levando tudo por diante,
A corcovos e porrete.
À esperas e negaceio.
Não tinha pra quê nem quando!
Se a terra se abrisse ao meio
- sem se importar co’a desgraça –
Seguiram cotejando,
Chão a dentro, tempo a fora!

Não sei qual era o mais taura,
Não sei qual era o mais potro;
Mas nenhum venceu o outro,
Pois, num golpe derradeiro,
O baio, em plena corrida,
Corcoveando, se boleia.
E os dois se foram da vida!

Mas essa briga renhida
Nunca chegaria ao fim.
Acolherados, assim,
Os dois com a mesma sorte,
Morriam da mesma morte
Pra continuarem depois.
Se os maulas vão pra o inferno,
Se quem é bom vai pra o céu,
É mui difícil saber
Pra onde foram os dois...

Se o baio levou o Quirino
Pra ginetear no inferno;
Se o ginete levou o baio
Junto com ele
Pra o céu.

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