Das ruínas do saladeiro.




Autor: Estanislau Robalo
Intérprete: Miriam de Ávila
Amadrinhador: Jqueline Muniz Vargas

À noite vem os lamentos
dentre meio aos escombros
das almas fazendo assombros
nas ruínas do saldeiro.
Talvez, de algum peão campeiro
remoendo seus tormentos.

Perdidad, buscando a luz
na saudade e nostalgia
lamuriando em noite fria
com as marcas do passado
carregando o seu pecado
conforme o peso da cruz.

É algum capataz de tropa
que sai pro aí vagando,
suas lamúrias tropeando
como o gado, aos ingleses
que mataram nossas reses
pra vender charque à Oropa.

E se tornam enrijecidas
numa convivência bruta,
na tradição e na luta
como faram esses gaudérios
outrora, mulatos sérios
hojem vagam sem guaridas.

Essas almas desgarradas
que vagueiam sem preguiça,
conhecem bem a injusitça
e a vivência sem direitos
a fúria dos preconceitos
e o vazi das invernadas.

Conhecem mais que ninguém
a história dessa querência,
a negação da clemência
até mesmo ao boi de canga,
saindo da última changa
pra charque virar também.

A relação de poder
que fez do pobre mais pobre,
o rico chamar-se nobre
modificando o conceito
e aumentando o desrespeito
sempre na busca do ter.

Quem sabe se ao saladeiro
que a essas almas congrega
alma de boi tambem medra
no saladeiro em ruínas,
possa ainda abrir as retinas
de muito peão campeiro.

Pois há uma eterna charqueada
que vai somando na tarca,
é o homem que bota a marca
pra marcar o semelhante
e leva a tropa por diante
como se leva a boiada.

Mas um dia, Deus permita
que almas de bicho e gente
num missal irreverente,
decretem o fim dos abusos
e a retirada de intrusos
dessa querência bendita.

Que a marca rubra deixada
no sangrador da coxilha,
demarque uma nova tropilha
pra um mundo mais consciente
e as almas que sigam em frente
felizes nessa jornada!
 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação. Tão logo possível responderemos.
Querência da Poesia

3º Querência