Pajada para a língua portuguesa.



Autor: Vaine Darde
Intérprete: Pedro Jr. da Fontoura
Amadrinhador: Violão: Esequiel Oliveira
Acordeon: Anderson Magrinelli

Eu transito pelo verso
com metáforas de campo,
lampejos de pirilampos
nos vocábulos impressos.
Pois toda a vez que me expresso
com a prosa dos galpões
tenho o sotaque dos peões,
que, por mais que o tempo mude,
-apesar do timbre rude-
jamais renega Camões...

Meu verso tem a aspereza
das forjas de ferraria...
A pena nolda a poesia
de vocação camponesa,
mas a língua portuguesa
é a chama que me inspira
a seguir timbrando a lira
com acordes de guitarra,
borracho, que nem cigarra
que bebe sol e delira...

Eu me criei na fronteira
mas nem por isso declino
do meu idioma sulino
nem da Pátria brasileira.
Cantar à moda estrangeira
é renegar todo o brilho
com o qual Camões, no exílio,
sofrendo auxências eternas,
chorou na lingua materna
e foi exemplo de filho...

Amo o timbre das auroras,
do vento nas casuarinas,
que a terra mãe nos ensina
nos sons que a gente decora...
Que tem sílabas de esporas
e cadência de legüero
e que, apesar de campeiro,
não aliena o fonema
mas eterniza o poema
do cantador brasileiro.

Nosso idioma lusitano
que saiu de Portugal
na odisséia de Cabral
pelos confins do oceano,
chegou ao solo pampeano
pra dar nome às sesmarias
quando o Rio Grande nascia...
E na mais bárbara etapa
eternizou-se no mapa
batizando a geografia.

Não contesto as influências
nem a mescla de culturas,
pois a pampa é uma mistura
de matizes e vivências,
porém me dói, na consciência,
o que se faz e se fez
ao despertar a altivez
desse idioma que Caminha
registrou, em poucas linhas
o Brasil em Português.

Por isto não abro mão
de cantar as nossas plagas
com sons de esporas e adagas
e cochichos de galpão
como se fosse guardião
ou mecenas do alfabeto
com que cantou Simões Neto
as lendas do nosso povo,
sem modismos nem retovo
que causassem desafetos...

Por mais sonoro ou divino
o idioma de Cerventes,
não me parece vibrante
no mesmo tom cristalino
que timbra os versos do Hino
de um Osório Duque Estrada,
um soneto, uma pajada
com a sublime beleza
da linguagem portuguesa
tantas vezes desprezada...

Não entendo esse elitismo
de adotar a íngua estrangeira,
é qual trocar de bandeira...
Pois língua é também civismo,
é sonoro patriotismo
que, pela vida, se agrava...
nos versos que a gente grava
sobre as folhas do caderno
querendo ficar eterno
com a Pátria nas palavras.

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