A tarde fecha-se toda
Por entre a terra e o céu!
Um aroma de liberdade
Descansa no horizonte.
As nuvens vão sem alarde
Cerrando as pálpebras com o véu,
Fria e sem olhos vai-se à tarde.
Baila o capim em forma e movimento
O vento desenha este quadro campechano
Trazendo com fidalguia um verso de -Aureliano- :
*“ - ´stão cor de cinza e cor de chumbo
As cousas, o ar, o céu e o chão”.
Ah! Este cruel manto escuro
Deixa-me de pupilas paradas
E ocultos silêncios no coração.
A tarde se faz pura e viva de poesia!
Às gerações e gerações restam versos
De todo o gênero, os mais puros
São estes os que surgem em momentos
Que na plenitude da alma
Aflora o lírico dos sentimentos.
Nestas tardes de julho
Encontro-me – cativo –
De olhar mudo e boca cega
Compartilhando esta nostalgia inebriante
Sem que do seu vazio
Fiquem marcas em meu semblante.
À tarde se retova
Na paisagem que este matiz desenha.
Em acordes cruzando coxilhas e canhadas,
O vento traduz sem limites essa ausência
Que o inverno traz na gola do poncho-pátria!
As arestas destas mãos
São “casa” para as rédeas do lobuno
Que se mescla ao tempo reiúno;
E num tranco seguimos os três:
O flete pra lida, o cusco na escolta da rês,
Eu mantendo viva a raça campeira
Longe da ilusão povoeira!
Pois a galope
O progresso consumindo
A essência terrunha,
Vai groseando peçunha e casco,
Encurtando a longa estrada
De quem leva ao tranco
A vida em cima dos “bastos”.
Sim!
Aqui se busca o novo, mas,
Com o garrão firme no passado!
Pois as ditas - tecnologias -
Atolam o homem na cidade
Como vaca magra em banhado!
Uma chuva mansa
Desperta o cheiro da terra.
A paisagem engole o olhar
E gris - o tempo -
Transforma-se em templo
Para meu pensamento estar:
*“- ´stão cor de cinza e cor de chumbo
As cousas, o ar, o céu e o chão”.
La pucha! Neste quadro de uma só cor
Os olhos buscam depois da várzea
Um rancho e um fogo de chão.
Assim por largos caminhos,
Perante a rosa-dos-ventos
Vão-se espalhando meus sentimentos:
- Que as nuvens... Mantenham o branco da paz;
- Que o verde... Se perpetue nas coxilhas;
- Que no ouro-sol... Brilhe a fé;
- Que a esperança e a igualdade
Andem com o vento por infinitos lugares.
- Fria e sem olhos despede-se à tarde;
Uma constante ausência de luz mantém-se e
Sentindo desaparecer a fronteira desse matiz
Vou rompendo o canto mudo do lugar
Para poder cortejar com palavras eternas
E redivivas, um salmo ao efêmero gris
Desta tarde mendiga!
A tarde fechou-se toda
Por entre a terra e o céu!
*“- ´stão cor de cinza e cor de chumbo
As cousas, o ar, o céu e o chão”.
Sigo pras “casa” cantando
Uma – Toada em Voz Baixa –
E buscando o matiz do meu galpão.
*Fragmento do poema “Toada em Voz Baixa”
de Aureliano de Figueiredo Pinto.
* Tema inspirado na musica instrumental “Tarde Gris” de Guilherme Collares.
Luciano Salermo
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