LAPIDÁRIO

Faz doze luas que fostes
E eu ainda lembro tua voz,
Quando chamavas por nós,
Quando corrias faceiro
Pelo terreiro e jardim,
Jardim das flores mais belas,
Último adorno que fiz
Quando nos deixaste assim.

Recordo o dia bonito
Que enfeitaste nosso mundo,
Mundo, que saibas guri,
Foi preparado pra ti,
Pois, quando te vi, nascente,
Até mesmo o sol poente
Ofuscou-se ao meu olhar.
Olhar que hoje, por ti,
Vive a chorar...

Queríamos ter te dito
Bem mais coisas que dissemos.
Queríamos que ouvisses,
Hoje, o que não te falamos,
O que pensamos,
E, por erro,
Até hoje
Não te falamos:

Se o tempo voltasse,
Seria eu bem mais branda
Com tuas artes de piá.
Quando nas horas de sesta
Judiavas da criação.
Não, não lhe daria castigo!
Castigo levo comigo
Ao ver tardes de sol quente
Sem chocas deixando o ninho,
Sem gritos de quero-quero,
Sem roubo de pão novinho.

Se o tempo voltasse,
Seria eu mais paciente
Com as conversas e causos.
Encostaria meu mate,
Te acolheria em meu catre
Sem reclamar de cansaço.
Te daria mais abraços
Do que te dei...

Se o tempo voltasse,
Eu não mais daria importância
Pras manchas no meu vestido,
Pra aquele queijo escondido
Pelo qual te castiguei.
Falaria a ti mais do que falei,
Riria mais do que ri,
Rezaria mais do que rezei,
Por ti...

Eu manguearia o petiço
Mais vezes do que mangueei,
Sem reclamar de cansaço.
Manguearia a qualquer hora,
Da sesta, antes do almoço,
Exausto ao chegar da lida.
Ah! Que dor adentra em meu peito
Ao olhar os teus bastinhos
Intocáveis pós tua ida.

Tuas mãos e teus pezinhos,
Teu jeito meigo de rir,
Que, ao partir,
Deixaste no meu olhar.
E me deixaste a penar
Como se a luz da vida apagasse.
Ah! Como eu queria
Que tu, como o sol, voltasse!
Voltasse a brilhar!

Jamais pensei que uma dor
Fosse mais forte que eu!

Sempre julguei que o amor
Fosse um capricho de Deus!

Espero que me compreendas
Por este tardio relato!

Não te entristeçam as lágrimas
Que nublam o teu retrato!

Ah! Se o tempo voltasse!
...Eu te traria de volta
Ao meu colo,
Se pudesse!

Se o tempo voltasse...
...Eu te traria de volta
Ao meu ventre,
Se pudesse!

Mas nós o temos somente
Em nossas almas dolentes
Quando a tarde entristece.

Cidade: AlegreteAutor: MaximilianoAlves de MoraisIntérpretes: Neiton Perufo e Romila Hoffman do AmaralAmadrinhador: Violão – Paulinho Oliveira

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