NA LIBERDADE DO VERSO

Senhores, peço licença, que a inspiração me concede,
sei que um gaúcho se mede mais por atos que palavras,
mas, por ser livre e sem amarras, seja aqui ou noutra parte,
meu compromisso é com a arte, e a liberdade é meu guia,
pois, prá falar em poesia, me sinto como um “Baluarte”.

Meu verso vem das entranhas desta terra colorada,
cruza várzeas e canhadas e pega o rumo das sangas,
depois se aquieta, se amansa, sem nunca perder o entono
e, por ser livre e não ter dono, não pede vaza ou permisso
e talvez, seja por isso que mostra tudo o que somos.

Meu verso não tem fronteiras, nem limites, nem divisas,
é a terra quando indivisa, sem cercas nem aramados,
é a liberdade dos pagos na imensidão desta escampa,
é uma voz que se levanta, como se fosse a estrutura,
sustentando uma cultura que tem raízes na pampa.

Meu verso não tem idiomas, tem história, tem relatos,
Pois um gaúcho de fato, “es gaucho” sul-ameríndio,
Meio branco, meio índio, meio negro e castelhano,
Espanhol ou Lusitano não se prende a dicionários,
Nem se amarra a literários, pois todos somos “hermanos”.

Meu verso é como o amor, quando puro e verdadeiro,
pois se entrega por inteiro a quem ama de verdade,
tem sentimento, tem saudade, tem ternura e emoção,
tem candura, tem paixão, tem carinho e alegria,
e se transforma em poesia dando alento ao coração.

Meu verso também é triste, fala de dor e de lamúrias,
de tristezas e penúrias, de amores mal resolvidos,
de romances proibidos e paixões indefinidas,
suas dores e feridas de saudades mal domadas,
com cicatrizes lavradas dos esporaços da vida.

Meu verso carrega o timbre de uma guitarra campeira,
numa ronda galponeira se extravasando em milonga,
cada corda que ressonga se transforma em nostalgia,
cada nota ou melodia que brota desse instrumento
aflora, como um lamento, e toma forma de poesia.

Meus versos cheiram a campo, perfumado a maçanilha,
têm rimas cheirando a encilha e a suor da cavalhada,
cheiram `a terra molhada e a campo recém queimado,
têm sabor de mate amargo e aroma de figueirilha
plantada numa coxilha, qual flora xucra do pago.

Meu verso é o cantar dos galos acordando as madrugadas,
reculutando a peonada prá empeçar a lida bruta.
Meu verso carrega a luta de um potro contra um torena,
e entre mango e nazarena, entre bufos e guascaços,
meu verso é como um laçasso, deixando manso, o ventena.

Meu verso é o grito perdido do tropeiro nas estradas,
é o estouro das manadas cruzando sangas e grotas,
meu verso é o berro das tropas num “era-boi”, tão sentido,
meu verso é como o silvido de um “sapucay” bem gaúcho,
como agüentando o repuxo de um tempo nunca esquecido.

Meu verso é o puro atavismo do sentimento charrua,
cavalgando, de alma nua, pelas planuras do pampa,
demonstrando pela estampa, com valentia e hombridade,
escramunçando a maldade, como um centauro guerreiro,
provando, pra o mundo inteiro o valor da liberdade.

Por isso meu verso é livre, por ser um pouco de tudo,
por isso é que não me iludo, pois sei que ele não é meu.
O verso é de quem o leu, quem o quis e o verseja,
de quem o vê com clareza, com carinho e emoção,
pois, se tocou seu coração, “ele” é livre, com certeza!

Cidade: Caxias do SulAutor: Érico Rodrigo PadilhaIntérprete: Paula Daniele StringuiAmadrinhador: Violão - Alcione Cleber Padilha

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