PAJADA PARA INDIARA

Índia da pele morena
bronzeada de sol e lua,
tens a beleza chirua
que encanta, mas envenena...
A tua boca pequena,
que de sorrisos se cora
roubando a cor das amoras,
é feita de um doce pomo
que se divide em dois gomos
amadurados de aurora.

Indiazinha guarani
que bebe luar nas águas
onde a Dalva se deságua
em luzeiros de rubi,
beleza igual nunca vi
luzindo no rosto nu,
ninguém possui, que nem tu,
a pele cor de porongo
nem tem sob os cílios longos
os olhos de guabiju.

Ah, sublime criatura
só quem vê como eu te olho
se embebeda pelos olhos
frente a tanta formosura,
fica tonto de ternura
no momento em que te mire
pois ao rir tu adquires,
nas faces cor de maçã,
esse brilho de manhã
que se enfeita de arco-íres.

Indiazinha. teu encanto
não tem verso que relate,
és uma obra de arte
que não cabe em nenhum canto,
daí o meu acalanto
qual gorjeio da manhã
timbrado de doce afã
em singela oferenda
pra um misto de índia e prenda
obra prima de Tupã.

Só eu sei quanto quisera
descrever a tua a graça
de céu pintado de garças
nas tardes de primavera,
ou traduzir as esperas
dos gerânios nas varandas
por teus passos em ciranda
quando em música deslizas
sobre as pedras onde pisas
pelas ruas onde andas.

O belo fica suspenso
na solidão mais intensa
quando deixas tua ausência
soluçando no silêncio,
o céu estende seus lenços
pra tarde triste chorar
e, da fronteira até o mar,
já de repente anoitece
porque o dia adormece
sem a luz do teu olhar.

Mas se voltas de repente
ah, pra quem te reencontre,
amanhece em plena noite
uma aurora reluzente.
Até Deus fica contente
porque a paz é tua irmã
e pra mostrar que é teu fã,
do jardim do paraíso,
pinta a luz do teu sorriso
na estrelinha da manhã.

Casualidade não é...
- tudo que digo comprovo -
és filha dos Sete Povos
essa querência da fé.
Tens o sangue de Sepé
na descendência que expões
estampada nas feições
de modo que quem te fita
vê na menina bonita
um querubim das Missões.

Menina, doce menina,
possuis nos olhos mestiços
esse sublime feitiço
capaz de mudar a sina
de quem guarda nas retinas
a névoa dum mundo gris,
mas descobre outro matiz
refletido em altivez
pois quem te vê uma vez
já sabe o que é ser feliz.

Menina, bendita seja
a tua boca mimosa,
duas pétalas de rosa
perfumadas de cereja.
Quando falas, tu versejas
florescendo bem-me-quer...
Não minto, se te de disser
que quem te olha deduz
que és um anjo de luz
disfarçado de mulher.

Teu fascínio deixa presa
a visão de quem te olha,
que de luz se desconsola
e entontece de beleza.
Tens um tom de realeza
que no gesto se declara
e que a gente bem repara
na silhueta, quando chegas...
um perfil de deusa grega
com feições de índia rara.

Por tudo quanto fascinas
e o céu que insinuas...
teu olhar tem duas luas
reluzindo nas retinas.
Quando olhas iluminas
com belezas ancestrais
e por isso, e muito mais
que os olhos se encantam:
és a musa por quem cantam
os sinos das catedrais!

Cidade: Capão da Canoa
Autor: Vaine Darde
Intérprete: Romeu Weber
Amadrinhador: Violão

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação. Tão logo possível responderemos.
Querência da Poesia

3º Querência