RECULUTA DE VERSOS

Autor: Sebastião Teixeira Correa/João Marin
Interprete: Carlos Aurélio Weber
Amadrinhador: Fernando Graciola

Matear ao pé do fogo divaga nossos pensares,
É nestas horas que a gente dá asas pro pensamento…
O meu, engarupou-se no vento,
q’adentrou pelo meu rancho.

Liberto, ganhou o mundo , com uma finalidade,
Reculutar versos tantos pra formar minha manada…
Foi assim, quase num upa, nem sequer se despediu.
Lembro a mala de garupa, num resto desta visão,
Poeira tapando a estrada, e a batida d’um portão…
Apartados num piquete, da mangueira de papel,
Vou fazer a seleção dos velhos, xucros, ventenas…
Caneta feito ginete, já á dou jeito nos “veneta”,
Pensamento feito esporas, falquejo aqueles mais xucros…

Os mais velhos, já polidos, será padrinhos do tema,
Desta tropilha de versos, q’eu hei de chamar poema…
Por de sol, e fim de tarde, chega a lua pro seu turno.
Feito duas sentinelas, cambiando a guarda na estância,
Fizeram-se meus parceiros, compartilhando esta ânsia…
Passaram horas, os dias, também passaram-se meses,
Até me “olvido” se às vezes foi uma ou mais invernias…
É nestas horas que o peito, traz recuerdos da guarita,
“Talvez, por ser GARIBALDI, não se meteu em pendengas?

Ou se enredou por amores, nos braços de alguma ANITA…
“Fiquei assim, chimarreando nos fins de dias, infindos,
Até que um dia, sorrindo, se achegou sem muito alarde,
Retornou pra sua essência, numa calada de tarde…
Polegadas de sorriso, que não se cabe entre orelhas,
E uma mala de garupa qual fase de lua ( CHEIA )…
Contou-me tudo o que viu e “cousas” que não quisera:
- Vi ranchos feitos tapera, rios bebendo pesticidas,
O campo já revoltado pelo arado da agroindústria,

Olhares de pura angústia fotografando a verdade…
Engordando as romarias, de esperanças alijadas,
(Se equilibra no vazio, peão rumando pra o nada…)
Vi ranchos enfileirados d’outro lado do aramado,
Esperando seu bocado d’uma terra prometida…
Ouvi lamúrios de piás, num fundo de beco, escuro,
Sonho de pai resumido num rancho de papelão,
E o choro parido seco, num desespero de mãe,
Desejo de dizer sim, mas a língua trai num ( Não )…

Vi comício à bola pé, candidatos discursando,
E a mentira atropelando ideais de boa fé…
Quem dera todas as falas viessem a ser cumpridas,
E os candidatos fizessem valer a velha premissa:
Mais vale uma boa ação, que a palavra proferida…
Cheguei a me perguntar se aquilo seria sina,
Numa diferença bruta, que eu vi pelas favelas,
Onde ruelas, feito güelas, fazem vezes de latrina…
Num esgoto a céu aberto, crianças chafurdam lodo,
E um povo sem instrução, acaba achando normal,
Pois nem sequer tem ciência, d’um tal programa social…
Vi, na alta sociedade, o homem saciar angústias,
Numa carreira assistida d’um modo bem diferente:

Não carece partidor, linha de chegada? Qual…
Onde as raias, numa mesa, alinhavam potros brancos,
Distribuídos em fileiras sobre o tampo de cristal !
Vi, a natureza em protesto, gritando na voz dos bichos,
E o farfalhar do arvoredo, quase mudo, agonizando,
Pois, ronco de moto-serra jaz os mesmos, propiciando,
Que a conta de uns e outros, vá aos poucos engordando…
Mas nem tudo foi tristeza.

Colhi na volta a certeza
Das sementes bem plantadas.
Mãos amigas me alcançando um mate quente a
preceito e um carreteiro à campeira, cozido daquele jeito…

Agora com seu permisso, preciso rever encilhas,
Guarnecer, lá no bolicho, minha mala de garupa,
Pois, ganho a estrada num upa, tão logo espreguice o sol.
Vou, dar de beber pr’essa tropa: esperança, novos dias...
Vou transformá-la num fato, onde vozes fazem vezes,
São bem mais q’um simples ato, mais que palavras vazias,
Semeadas das tribunas deixam de ser utopias,
Pra se tornarem então, sementes de opinião,
Nos festivais de poesias…

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