UM HOMEM NO RUMO DO SEU TEMPO

Autor: Jorge Chaves
Intérprete: Cristiano Ferreira
Amadrinhador: Cláudio Silveira Filho

Pra quem traz a sina
De um rumo certo perdido de si...
Por encruzilhadas tão enforquilhadas
Como eu já me vi,
Que tire os arreios... refrescando o lombo,
Desvie os atalhos com olhos graúdos,
Repense os caminhos pro homem-guri.

Idéias ligeiras...
Que nascem do nada aos redemoinhos,
- Extraviam sonhos de aves por ninhos -
Misturam as tropas pelos corredores...
Caducas - perdidas – cansadas de andar,
Com marcas distintas e “hállenos” sinais.

Quem anda solito vive de quimeras
E o peito às taperas...
Guarda temporais.

Sementes e amores,
Em terras “ardidas”, gorgulham... sem vida,
Perdem-se da aurora sem frutificar.
- Aprendi a golpes, de tanto encilhar -
Desfio um rosário cruzando os meus tentos,
Alinho meus rumos, confiro os aprumos,
Pra não me enredar!

Já sovei estradas e pisei sebrunos
A trotes ladrões.
Já cravei esporas retrucando as horas
...Mangueando ilusões!
Quis vencer o tempo...
Me roubaram mates e desencilhadas.
Secaram vertentes de contentamentos
De tanto sangrar!...

Juntando os tições e os restolhos de mim,
Hiberno o destino... com as tropas do outono,
Apêros recolho no inverno teatino
Que engraxa as ladeiras -malevas- traiçoeiras.

...E foi de sobre-lombo
Que estendi meu laço...
Não cruzei o rastro e me “estropiei” num tombo.
Malfadada sina de acasos travessos,
Pisará minha sombra por onde eu andar?
...Pra enrolar minhas loncas
Com sal e com pompas,
Num dia carrasco de agosto a ventar?...

Com “suertes e culos”... cancheiro aprendi.
- Já não me convém - repassar mais distâncias
Por léguas canhotas.
Minhas velhas botas
Vão gastando o couro às voltas por aqui.

Se o lático estoura
- Já conheço as baldas - não golpeio espaldas -
Desnucando as ânsias minguadas...
Que restam pro homem-guri.

- Quem terá pregado -
Que a doce ribalta do homem está longe?...
Quem falou pro guasca:
- A soga do pago não deixa engordar!
Em qual pergaminho talhou Deus ou Judas,
Carrancuda lei:
Que a felicidade em verdade...
Se esconde por outro lugar?

Quem se desentóra da velha querência,
Busca-lhe a saudade, pra o véu derradeiro
- Ou tomba o campeiro – afogado na ausência,
Voltando a cabeça pras “bandas” do pampa!

Quem se enraíza na terra que ama
A cultuar valores em mansos repontes,
Não exila potros, nem “cerra” horizontes
Pra alma gaudéria... liberta e feliz.

Costeando sogueiros, galpões e braseiros...
Venera os amigos na essência do amargo.
Somando cultura, anseios, talento...
Prega ensinamentos pra outros guris!

Abraço a ternura...
Nos olhos de um filho, se abrindo ao futuro.
- Há um lume no escuro -
É a minha esperança bombiando o infinito.
Quem tem uma cria
E arreia um petiço... fecunda a experiência!
Rebrota na ciência
De não perecer... num trancão de solito.


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OBS: SUERTES E CULOS – respectivamente os nomes que recebem, em espanhol, cada um dos lados do osso usado no jogo de mesmo nome ou Tava. Sorte ou azar.ARDIDAS – expressão fronteiriça quase extinta paa adjetivar terra árida, não fértil.

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