UM CERTO CAPITÃO MARIANO FLÔRES

Autor: Moisés Silveira de Menezes
Interprete: Andréa Nunes Sá Brito
Amadrinhador: Christian Gutterres

Um regimento aguerrido
viu-se preso de repente
numa engenhosa emboscada,
a frente mil de a cavalo
fina flor da descendência
da gente de Souza Neto,
quase isso a retaguarda
infantaria de lei
gente experiente, quadrado
mosquete, sabre francês
estudados na cartilha
do velho mestre Sampaio.

O olhar varre a direita
socavões, cerros, peraus
travessia intransponível
escarpas além dos olhos
cortina de cerração,
cruzam balas sibilando
num deboche de mau gosto,
por sobre a grimpa dos cerros
a morte espreita em silencio.
Achicou-se num repente
o mundo da pampa larga
de gastar potros e arreios

Recorrendo o flanco esquerdo
percebeu perfeito o cerco
quando banhados e chircas
tremedais e sumidouros
descortinaram-se aos poucos.
Saberia o comandante
por certo, pensou Mariano
sair-se dessa enrrascada
a ele, então caberia
comandar seu esquadrão
fosse quem fosse o contrario,
qualquer que fosse a proposta

Cepa moura, o velho avô,
vaqueano de campo e guerra
bandeirando um pala índio
cruzara riscando mapas
a pampa sul-amerindia.
Comandou cargas de lança
contra Rosas, Oribe e Aguirre.
Por capricho e por ser guapo
Caronte veio encontrá-lo
já mui lejo dos oitenta
à sombra das casuarinas
nos campos do Chiniquá.






O pai,caudilho de escol,
montando um zaino tapado,
rubro lenço drapejando
espada folha de Espanha
cortou caminhos e homens,
corpeou ponteiras de lança
zombou de balas e adagas
nas guerrilhas de Aparício.
Permitiu-lhe ainda o tempo
que transmitisse um legado:
-Honrar o lenço e a bandeira
Recuar!? Nunca! Jamais!

Montaram trezentos homens
Mariano Flôres ao centro
Vulcano incendia o campo.
Trovejam cascos, tambores
lampeja um furor nos olhos,
centaura herança beduina.
Partiu-se o quadrado infante
ao choque da quinta carga,
onda de homens e potros,
zunidos, brados, relinchos
aquarela tenebrosa,
sinfonia barbaresca
numa ode a liberdade.

Vida e morte se entrechocam
em honra a um deus insaciável,
fantasmareia uma sombra
povoando a tarde brumenta.
- Chamem o velho barqueiro!
Que um azulego estreleiro
esbarrou no rio Estige.
Apeou seguro e com jeito
de quem leu vida e destino,
um capitão comandante
que honrou legado e herança
querência, lenço e bandeira!!!

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