Pra quem mateia solito

Autor: Marcio Gomes/Getulio Silva
Intérprete: Fabriano Rodrigues da Silva
Amadrinhador: Vasco Machado

Enquanto mateio solito
vou agrupando saudades,
em busca de realidades,
paleteando as duras lidas
sofrendo mágoas perdidas
onde o silêncio e os ventos,
amansam meus sentimentos,
e compreendo melhor a vida!

Vou tropeando o pensamento
cavalgando na vontade,
sorvendo só a verdade,
no açude da esperança
ao tombar a noite mansa,
campereio o meu destino,
o sonho me fez menino,
cabresteado de lembranças.

Fui me embretando no tempo
que o amargor me levava,
e a infusão que eu tomava,
com telúrica emoção
junto ao fogo de chão
dei asas ao pensamento,
palanqueei o sofrimento,
com meu mate-chimarrão.

Um desejo escondido
na quentura da cambona,
a saudade redomona,
no peito de quem mateia
meu coração escarceia
quando bato o tição
e a seiva da tradição,
dentro de mim corcoveia.

Meu companheiro cavalo
introspectivo por excelência,
traz o amor da querência
que sorvo em cada trago,
teu calor é o afago
que vai cruzando divisas,
chimarrão, tu simbolizas
as coisas vivas do pago.

Cabresto de ternura xucra
do amargo tão gostoso,
que por vezer silencioso
num mirar de relancina,
deixa preso na retina,
como a desvendar segredos,
gesto oculto, de tocar os dedos,
que prende o olhar da china.

Meu amigo mate-amargo
com sua mística vivência,
que traz na sua procedência,
recordações do passado.
Em silêncio teno gritado,
o que pra mim representas,
um rio verde de água benta
das tradições do Estado!

Nos últimos roncos
deste xucro mate-amargo,
horizonte a dentro me largo,
e vou bebendo lonjura
num xucrismo de ternura,
deste atavismo tão grande,
que no teu sabor se expande,
no saber e na cultura.

Depois de matear bastante
te guardo cheio de ciúme,
és tradição e costume,
do nosso pago bendito,
que se alastra ao despacito,
sempre em cada cevadura,
de algum recuerdo amargura
de quem mateia solito!!!

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