Pra quem tem Pátria na alma

Auitor: Sebastião Teixeira Correa
Intérprete: Tônia Mariza Frizzo
Amadrinhador: Tomas Savariz

Escorropicho esse mate até o último gole,
porém, a sede do corpo não é maior que a secura
que trago dentro da alma.

Esse viver emprestado entre muros e asfalto
torna minha vida um deserto
onde a torreira é tão forte
que as sementes dos meus sonhos
não conseguem germinar.

Um dia bandeei pra cá, nos louros da mocidade,
com aforça de agarrar potros
e a coragem de que pega touro ventena na cruzada
e mete os dedos nas ventas, pra derrubar na mangueira.

Com destreza pra um pealo
e a certeza de quem larga um doze braças comprido,
estirando toda a corda, pra cinchar de a cavalo.

Os olhos de águia e o peito, uma muralha pros golpes
das intempéries teimosas que insistem em nos derrubar.

O que buscava?
Até hoje ainda tento descobrir...

Talvez descanso das lides, sofrido por tironaços,
talvez um pouco de "espaço",
pois dizem que é de direito buscar posição sociail;
Ou, quem sabe, a garantia de alguma changa decente
pra amparar aminha gente neste mundo desigual.

Numa malda de garupa juntei os poucos pertences
e o campo virou saudade...
o olhar de longe pros pastos,
a poeira encobrindo os rastros,
assim rumei pra cidade.

Malvada ilusão aquela que às vezes nos faz pensar
que a tal de felicidade é flor que habita castelos,
distantes pros nossos sonhos;
Que a vida só tem sentido pra quem se torna povoeiro
e que o viver de campeiro não faz a gente feliz...

Ninguém me disse o contrário,
nem um gesto, nem palavra, pra que eu tomasse tenência,
então, deixei a querência, o rancho onde fui nascido,
a coxilha, onde crescido, tironeava só por graça;
Deixei o pingo de estouro, com fibra de pechar touro,
deixei amigos, parentes (gente que gosta da gente),
acho que não me dei conta que estava deixando eu mesmo:
-Minha raiz campechana;
-Minha cultura encravada em cada palmo de campo
-Minha memória de hoje campeia causos, paisagens,
que se extraviaram de mim.

Não vi o tempo passar.

Há muito que ando correndo
atrás de uma multidão que não sabe pra onde vai:
-Não sabem o que procuram-
Mas, mesmo assim continuam, cada vez correndo mais...
Existem tantos potreiros nessa invernada do povo,
muitas mangueiras e bretes,
muitos currais, de onde as tropas jamais conseguem sair.

Pra alguns o cerco é mais forte e otrago mais racionado;
(Há que pastar-se ajoelhado, garantindo o necessário).
Quando amiuda o salário todo o brio perde a razão
e o cocho da humilhação emborca, vira ao contrário.

-Quem vive de previlégios pro certo se dá melhor-
Honestamente o trabalho não dá riqueza a ninguém;
Viver com dignidade é tudo o que eum ser humano
precisa pra ser feliz!

Por onde anda a justiça
prometida nos discursos quando falam os candidatos?
O poder fere a consciência,
sobe a idéia a prepotencia na gana dos insensatos.

Por anda anda a vergonha e a garra dos "marca-touro"?
Capaz de dar um estouro pra espantar os graxains
que na calada da noite vivem pilhando a miséria,
sugando o sangue dos fracos,
fazendo rombos, buracos, com instintos de cupins.

Peço perdão da revolta, que às vezes fala mais alto,
nestas horas em que o mate me traz o verde do campo
na palma da minha mão,
e escuto o meu coração me pedindo pra voltar.

Me perdoem as palavras que às vezes soam pesadas,
mas tenho as vistas cançadas de tanta dor enxergar.

Queria voltar no tempo, encilhar um pingo bueno,
recorrer todas as estâncias e contar pra todo mundo
que esse luxo da cidade é tudo, tudo, ilusão;
Que a vida só tem sentido pra quem ama a natureza,
que a ganancia e a avareza corroem os sentimentos
com as armas do desamor...

Porém, me sobra tão pouco nesse viver de lembranças,
e só me resta a esperança que rebrotem nas coxilhas
os ideiais farroupilhas, com toda a força e tenência,
para salvar a querência das injustiças sociais,
dando um exemplo aos demais,
pois somos a descendência da raça mais altaneira,
temos a herança guerreira dos charruas e minuanos,
-Nós somos republicanos... Há Pátria em nossa Bandeira

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