Sobre a luz do que sou - Rio Grande

Autor: Loresoni Barbosa
Intérprete: Tanara Barbosa
Amadrinhador: Francis Barbosa

Trago taperas no interior da alma
com fúnebres silêncios nos arredores,
a vida exilou-se com seus moradores,
prenderam os pássaros, suas sinfonias,
tristes margaridas enfeitam os dias
e enlutados pairam os beija-flores.

Também habitam minhas míseras posses
escalavradas pela insensatez do homem,
descuidadas ruínas de figueiras velhas
sombras e sestas - no calor das tardes -
são quase memórias para mim - tão jovem -
ja desnudado por mãos tão covardes.

Sobre o que fui, imensidão de campos
deslpilcharam aços pra fruror da guerra,
o sangue verteu das veias - tão torpe! -
Que senti o sopro da morte com gosto de fel,
absorvi com vergonha a carniça dos filhos
e me fiz mortalha para os maltrapilhos
que só tinham o dia, a noite e o céu.

Sim, recorreram-me incessantemente
pelos séculos que se passaram,
ora lusos contra castelhanos
ora ambos a eximir hermanos,
ja batizados pelas reduções
mas que não tinham em seus corações
a dureza das pedras que outrora empilharam.

Nem por isso me cantem com tristezas apenas,
pois o que fui ficou na história,
no grito bem audível do charrua
desgarroteando alçados para os imigrantes,
na covardia austera dos bandeirantes
estorquindo inocência e telurismo
no estrondo da América que nascia.

O amargo e a pureza do porongo guarany
que harmonizava a prosa dos justos;
hoje recorrem inocentes mãos,
a esmolar as sobras dos ricos de penas
que trazem pobrezas no vazio das almas,
infundados sonhos no interior dos olhos,
e o frio dos amargos invernos
blindando a dureza de seus corações.

Quis ser apenas um - liberdade -
fui preso, fui desdenhado,
fui vendido e fui comprado
por tratados - destratados -
no chá das quatro, além mar,
mas os meus donos de fato,
margeiam pelos asfaltos,
estorvam pelas calçadas,
imundam minha capital.

O tempo dissovle,
resove tudo a seu modo;
E o homem louco dispara
sem ver que ele é quem passa,
se deita com a ganancia
sonha ser Deus ou poeta
acorda e não rega as plantas.

Sigo a inspirar os poetas,
ser verso é bom afinal!
Se do que fui pouco resta
o esquecimento é fatal!...

Desfaço-me terra santa,
disfarço-me terra bruta,
declaro-me passível a teus pés,
destilo-me suor da semente vida
devolvo-me trigais e vinhas,
Dissolvo-me erosões e cinazas,
Devolvo-me horizonte ainda
Para tua contemplação...

Trago arranha-céus no exterior da alma
com eloquentes fantasmas em seus arredores.
A vida distrai-se com seus predadores,
compram-se sombras, suas sinfonias,
a frias flores pra alegrar os dias,
e ofuscados pisacam os vaga-lumes...

Mas eu, - Rio Grande - renascerei aos poucos,
quero ser eterno - anfitrião gigante -
pois sobram gaúchos nos fundões da pampa,
versos na pena de um velho poeta,
e uma cantiga ecoando nas taperas
que até parece que é Spé quem cant

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