I
A escuridão abre o dossel no pago
- um poncho negro sobre nós flutua!
Na gola, o furo, forma a luz da lua
que se derrama sobre o pampa vago!
Ouve-se a voz tristonha do urutago
que fere a noite com sanguíneas puas...
Estância e estrada, dormitando as duas,
“a quem esperam?” sem saber, indago!
Há uma saudade que se perpetua...
Que me persegue ou, sem querer, eu trago
em minhas veias que são velhas ruas!
Ao meu olhar, a noite se insinua
e, indecifrável, dá-me o seu afago;
porém, oculta em sombras, continua!
II
Uma coruja, tímida, observa
com seu olhar imenso o obscuro...
Soam lamentos, prantos e esconjuros
que o imaginário popular conserva!
O último mate já lavou a erva
e o trasfogueiro dorme um sono puro...
Um piá insone sente-se inseguro
e ouve o silêncio que o temor reserva!
Sem preocupar-se com qualquer futuro,
um ser notívago que o breu preserva
vai explorando pastos e monturos...
E o cão sem dono, esquálido e maduro,
chora pra lua lúcida e se enerva
com as silhuetas ágeis pelo escuro!
III
Quando sucumbe o dia, calmo e sério
e o céu sangrado, aos poucos, escurece,
toda a paisagem que desaparece
vai se perdendo em sonhos e mistérios!
Dormem os homens: aldeões, gaudérios...
Cochila a estância e o povo permanece
de olhos fechados desde que anoitece
até que a Vésper ronde os hemisférios!
E enquanto a vida, súbita, adormece,
taperas, ermos, fundos, cemitérios
acordam lendas que o presente esquece...
É quando o espectro suplica a prece
e a treva exulta sobre o medo etéreo
que desintegra-se quando amanhece!
Cidade: São Borja
Autor: Rodrigo Bauer
Intérprete: Pedro Júnior da Fontoura
Amadrinhadores: Teclado - Paulo Bracht
Flauta Transversal – Texo Cabral
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