BALAIOS VAZIOS

Quem passa naquela estrada, pras bandas de Camaquã,
Vê uma tribo abandonada, esquecida por Tupã...

Raízes da pampa
Desnudas, sem solo,
Da terra que um dia foi dada por Deus;

Às margens do asfalto, as almas mendigas
Esperam que o mundo devolva o que é seu.
É o resto de um povo heróico, valente,
Nascido na selva, com dom de vertente,
Que busca caminhos no ventre do chão;
Ganância de poucos os fez tão errantes,
Maldade de muitos os deixa distantes
Da mãe natureza, que é vida e que é pão.

As casas de lona desmentem a cultura
E agrava a tortura... Destino infeliz.
a fome que avilta, o frio que ameaça,
Mermando a esperança aumenta a desgraça,
Mas verga e não quebra o cerne da raça
De um povo guerreiro, heróis guaranis!!!

No Rio Grande afora,
À beira de estradas,
Perfilam-se as casas de lona quinchadas,
Guardando a história dos meus ancestrais;

Guaranis, caigangues,
Que a terra sem males sonharam um dia,
Sepé deu a vida, lunar de utopia!
Que há de trazer a luz da alegria,
Num tempo perene, de amor e de paz.

Os ventos tão tristes, cantados em vida
Na canção sentida de Cenair Maicá,
Ainda persistem nas noites compridas
Que mexem as feridas das gentes de cá.


Enquanto se inscreve no Livro da Pátria
Os feitos heróicos do velho Sepé,
Seu povo excluído, persiste alijado,
Não ouve-se a voz lançada num brado,
E um grito entoado, num gesto de fé.

Cadê a justiça, que esquece dos fracos,
E entona gravatas em vis gabinetes???
Que engorda salários e conta bravatas,
Galgando poder, somando cascatas,
Que privilegiam e criam chefetes...

Cadê o Ministério,
Que pousa de justo e conta que é sério,
E mata de susto,
Brincando de um jogo de quarto poder?

Cadê o compromisso com a origem da gente?
Transformam o índio num ser indigente,
Que hoje não tem a quem recorrer.

Cadê a FUNAI, e outras iguais,
Que vivem da sorte do índio espoliado?

Omite-se a mídia, omite-se a Igreja,
Somente a incerteza viceja ao borralho...

Devolvam ao índio o seu patrimônio,
Que é a mata e os bichos,
Os peixes e os rios...

De lá das alturas escuto os bordões
De um canto dos livres...
É a voz das Missões, que cruza as coivaras,
Timbrando suas notas nas secas taquaras,
E "cantam ventos tristes nos seus balaios vazios...
Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios.”


Cidade: Caxias do Sul
Autor: Sebastião Teixeira Corrêa
Intérprete: Ayrton Jorge Machado de Souza
Amadrinhador: Violão - Julio Schimidt Haubert

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