SENTINELA AO SUL DO MUNDO

Sem assombros dos Açores
para os açoites do sul
mudança, mudando a sina.
Um punhado de sementes
um mar de pastos nos olhos,
promessas, sonhos, visões.
Inconstância de horizonte,
divisória em movimento
sob cruzadas nefastas,
entrechoques fronteiriços
vilania predatória
com bandeiras de Castela.

A carta de Silva Paes
faz ver ao luso poder,
imperioso protejer-se,
Colônia do Sacramento
que venha gente de Açores
gente sem eira nem beira
se não der pra outra coisa
de mais ou melhor valia
serão bucha de canhão.
Urge El Rei senhor dos mares
dos ventos, velas e velos
defender o sul do mundo.

“Ainda não fui ao Brasil
Já me chamam brasileiro
que dirão quando eu voltar
e traga muito dinheiro.”
Trouxera esse canto antigo
lonjura, tempo , distância
caminhando contra os medos
peregrinando visões
José de greis e de grãos
já fora barro e madeira,
agora Manuel José,
engenho, roça ,rosário.

Andar,plantar e colher
caminhante desde sempre
fora assim ,seria assim
encontros e desencontros
caminhos e descaminhos
nas pegadas de José.
Depois de andanças e andados
navios,mares,céus e campos,
plantado na pampa larga
caravela sobre pastos,
um rancho sossobra ao vento
bem ao sul do sul do mundo.

Manuel José Silveira
semeou-se no Mundo Novo,
silveira, silva, silvando
silvo de barcos ao longe
silêncios de cerro grande
sóis de espigas nas lavouras,
tafona, tambeiros, tambo
trovejões de boca larga
lanhaços de espada e lança
pelos confins da memória,
tejo, tava, truco e trago
para o ócio dos domingos.

Princípios, valor, palavra
homem de nome e bandeira,
calosas mãos de trabalho
corpo rijo, cerne puro
forjado a golpes de arado.
Sob as luzes do Cruzeiro
terços, cantos ,ladainhas
Divino, Reis, Cavalhadas,
a terra mãe dadivosa
gesta covas e canteiros
a vida floresce filhos
o tempo floresce vida.

Acordes do velho mundo
no canto de um tempo novo,
as levas imigrantinas
assomaram nas varandas,
semeando sonho e semente
abrindo trilhas e vergas.
Um mate cevado à gosto
no rancho, posto avançado
sob o sinete Del Rei
e a proteção do Divino
Manuel José Silveira
sentinela ao sul do mundo.

Cidade: São Pedro do Sul
Autor: Moisés Silveira de Menezes
Intérprete: Érico Bastos
Amadrinhador: Violão - Marcos Morais

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação. Tão logo possível responderemos.
Querência da Poesia

3º Querência