Razões para Exaltar um Canto


O galo canta no pago, evocando rebeldias… E o seu canto é como açoite tocando as trevas da noite, chamando as barras do dia.  Soltando a voz “a la cria”
do seu cantar instintivo, cumpre um ritual primitivo  e traz uma ordem pra gente… Calçado nas suas esporas este caudilho emplumado, grita de peito empinado que é hora de ir em frente.  O galo canta imponente, virando lume que guia… E a vida num tranco lento pouco a pouco toma tento pras asperezas do dia.  Vejo mais que melodias neste canto que me alerta e sem rodeios desperta meus sonhos perto do fim... Me conduzindo de tiro por ermos nunca pisados,     e grotões mal assombrados  que trago dentro de mim.  O galo canta aprumado,  e a madrugada se agita… Na noite que se esmaece o galo cantor parece o próprio pampa que grita.  É uma herança bendita que os ancestrais nos legaram para guardar seus valores… Pois quando canta no pago, traz um oportuno recado pras ansias do novo tempo, que me chega pelo vento se aninhando em minha mente: Só vive em pé no presente quem tem raiz no passado! 


Neste canto abagualado  vejo a alma do meu povo, campear um destino novo marchando entre os macegais… E escorada no seu grito de comandante emplumado, se plantar nos descampados  mesclando sangue aos trevais.  Faz lembrar velhos rituais  quando canta sem floreios, e reacende os anseios de uma pátria sem buçal trançando os próprios caminhos pra cinzelar sua essência… E usando o áspero timbre do seu canto como ponte, levar pra além do horizonte
os marcos desta querência.  O galo canta atrevido, e a noite parte calada… Seu canto ecoa em meu peito me arrancando contrafeito   dos braços que fiz morada.  E acordando a madrugada que dorme junto das casas,  leva em seu bater de asas os meus sonhos campo a fora… Pois quando canta no pago seu canto é lança de aço, cortando tempo e espaço pra sangrar o matiz da aurora.  O galo canta entonado, tal qual a voz de um clarim… E este bravo chamamento dá armas pro pensamento do peleador que há em mim.  Quando o galo canta assim nos xucros tempos atuais, lembra cultos ancestrais que revigoram a minha fé… Pois vislumbro no seu canto um bombeador do futuro,
gritando claro, no escuro: Bota os teus sonhos de pé!
Gilberto Trindade dos Anjos

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Querência da Poesia

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