EM QUAL PORTO?

Se um dia eu fui semente,
Semeada sem querer
Se não pude escolher
Entre nascer ou morrer,
Eu habitei o teu ventre.

Ali eu fui aninhado,
Por horas, quem sabe dias,
E mudei tua geografia.
Eu em teu ventre crescia,
Pra ser um dia aportado.

Mas o que eu não sabia
Em qual porto, nem a hora?
Pois tua alma senhora,
Já havia ido embora
Enquanto me concebia.

No teu puro egocentrismo
Nas loucuras do prazer
Querendo viver, viver
Não conseguiu perceber
Que regavas o egoísmo.

Alimentava sem querer,
O fruto de teus desejos,
Eu era o teu segredo
Teu presente, teu brinquedo
Nas entranhas de teu ser.

Um dia me descobriste
Eu no ventre estremecia,
Eu te amava noite e dia
Seria tua alegria,
Mas senti que estava triste.

Chorei teu pranto, tua dor
Sentindo teu coração,
Que cego e sem compaixão
Sangrava sem ter razão,
Não queria meu amor.

Resolveste me parir
Expulsar-me de teu ventre,
Matar e punir semente,
Num ato tão displicente
Eu deixava de existir.

Hoje eu vim te contar
Que senti naquela hora,
Tu me mandavas embora,
Eu já amava a senhora
Eu não queria aportar.

Fui golpeado em teu ventre
Te confesso agonizei,
Por teu perdão implorei,
Em minha alma guardei,
A dor que hoje tu sente.

Fui apartado de ti,
Abortado sem querer,
Sem direito de nascer
Fui condenado a morrer,
Por isso que estou aqui.

Sou parte de teu passado,
Deveria ser presente.
Mesmo eu sendo inocente
Por não ter alma de gente,
Por você fui condenado.

Em qual porto? Qual a hora?
Eu não pude decidir,
Entre aportar e existir
Entre ficar e partir,
Por ti fui mandado embora.


Cidade: Farroupilha
Autora: Rosangela Rosa
Intérprete: Priscilla Alves Colchete
Amadrinhadores: Violino - Grace da Silva Narde
Violões - Daian Luis Costa e Dian Paulo da Costa

Um comentário:

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3º Querência